26.2.08

Diário Gráfico em São Paulo - Março

Caros criativos
O "Diário Gráfico" está a caminho de São Paulo em Março.



Esta é uma oficina de desbloqueio criativo que usa o livro como suporte. O programa é focado na prática de trabalho nos cadernos ou sketchbooks, livros alterados ("altered books") e livros de artista.

Serão 3 tardes de segundas-feiras: dias 10, 17 e 24 de Março (das 14 às 17h).

Objetivos do Curso
A prática de trabalhar em cadernos, seja para registro das fugazes idéias, seja como suporte para experimentação gráfica e conceitual, continua mais acesa do que nunca. Nem mesmo a incorporação das novas mídias digitais, e as suas infinitas possibilidades de experimentação, apagou o interesse pelo potencial do mundo analógico das páginas dos cadernos.
Os Diários Gráficos, como assim vêm sendo chamados, têm se mostrado um local de ilimitada liberdade para expressão criativa, experimentação e descobertas. Livres da promessa de redenção proporcionada pelo botão de UNDO, os indivíduos criativos nascidos na era pelo computador, arriscam mais, experimentam novas possibilidades, tomam contato com a fisicalidade dos materiais, e neste processo colecionam acertos, erros e acidentes felizes. É justamente na possibilidade de encontrar-se com o acaso, o não-planejado, que enriquecemos a experiência do processo criativo.

A prática e a Teoria
Em "Diário Gráfico", serão praticadas diversas técnicas (colagem, monotipia, caligrafia, e trabalhos de desconstrução e fragmentação) e também exercícios que propõem a experimentação intuitiva com materiais, achados gráficos, fotografias, transferências, desenhos, colagens e fragmentos do cotidiano. Tudo isto em um contexto onde não imperam as regras, os "certos e errados" e os "sins e nãos" que tanto tolhem a criação artística.

A parte teórica, com apresentação de diversos exemplos reais de sketchbooks, livros de artista e livros alterados, inclui também uma projeção em datashow com mais de 100 imagens relacionadas ao tema.

Os participantes aprenderão a costurar um livro em estrutura "Códex" (o Diário Gráfico) , a partir do material produzido em aula.

2 Lobos

25.2.08

Créu!

Cresci numa casa onde meu pai e meus irmãos (Lílian e Flávio) eram Fluminense e minha mãe Flamengo. Na família, meu tio mais bacana era Vasco, e todos os primos com quem brincava, Flamengo.



Na verdade, ter um time não era assunto da maior importância para mim. Se meu pai me levasse para ver um jogo na torcida do Fluminense, eu achava sensacional estar ali no Maraca no meio daquela nuvem branca de farinha que envolvia a arquibancada no momento em que o time entrava em campo ou fazia um gol. No dia seguinte, lembro-me bem, meus olhos eram verdadeiras fábricas de remelas, tão grandes que poderiam ser usadas como massa de pão.
Aquelas experiências me faziam Fluminense por uns tempos...

Se um tio me levasse à São Januário ver um jogo, eu voltava falando do Vasco, do Roberto Dinamite, claro. Virava Vasco por no máximo dois dias!



Haviam os primos e tios mais legais, todos Flamengo, e que não me davam sossego no caso de eu não pertencer ao time deles.

Eu tinha um tio brabo que assistia aos jogos na TV sem volume, mas com um radinho de pilha ligado em cima dela. Meu tio dizia que não aguentava ouvir o Galvão Bueno. Ele preferia aqueles caras do rádio. Eu achava que no rádio os locutores de futebol falavam tudo enrolado, de um fôlego só, e para mim aquilo parecia mais o som que a garrafa dágua fazia quando era enchida no filtro da cozinha.

Como era supersticioso aquele tio flamenguista...Do tipo que chamamos de "torcedor doente". Em dia de jogo do Flamengo na TV ele nos obrigava, a mim e ao meu primo, a assistir tudo em silêncio ao lado dele, vestidos com seus meiões de futebol que encobriam nossas pernas até a virilha. Era um calor danado e aquelas meias puídas pinicavam à beça! Ai de nós se as abaixássemos, daria azar!

E quando o Flamengo fazia gol? Era uma coisa de louco, o meu tio pegava o 38 dele e dava vários tiros para o alto. Eu achava legal o barulhão e aquele fogo que saía na ponta do cano, então torcia para o Flamengo fazer mais e mais gols.

Optei finalmente por ser Flamengo (embora hoje não saiba dizer o nome de qualquer jogador que tenha vindo depois da era Zico, Junior, Adílio, Leandro, Claudio Adão...). Hoje desconheço até quem seja o técnico deste time que ganhou uma Taça Seiláqual ontem. Posso dizer que em assuntos de futebol não ligo para nada, mal torço pelo Brasil na copa.

No domingo à noite estava dentro do Túnel Rebouças quando me vi cercado de carros que retornavam do Maracanã em direção à Zona Sul. Motoristas-torcedores comemoravam com buzinhas, trombetas, camisetas e bandeiras. Costuravam sua alegria entre os carros aos gritos de "é campeão!" e também algo que soava parecido com "crééuuuu...". Mas foi tudo tranquilo, até divertido. Daria um desenho bacana aquela cena.

Apesar deste meu desinteresse quase completo pelo universo futebolístico, notei na minha ida à banca hoje que existe algo entre essa palavra "créu" e a vitória do Flamengo naquela final. Parece que é uma dancinha de comemoração de gol, inspirada num funkizinho tipicamente carioca ao qual está associada uma certa coreografiazinha de duplo sentido.

O Brasil é fértil nessas manifestações... êita povo criativo pra coisa que não presta!

De volta para casa, jornal no suvaco e pão no saco plástico, passei em frente à um prédio já em fins de construção quando de repente ouvi o motorista de um caminhão estacionado dizer alto entre um largo bocejo:

"Créééu!!"

Em seguida, lá de dentro do segundo andar veio outro "Créééu!", depois um terceiro e um quarto "Créééu!".
Daqui a pouco do prédio sem janelas começou a ecoar uma sinfonia de créus de todos os tipos, os trabalhadores da obra como um rebanho de cabritos, cada qual colocando sua entonação e peculiaridade vocal ao cacófono conjunto.

Mais passos adiante, distraído com uma ou outra manchete, ouvi o vento trazer de longe o que parecia ser o grito-bocejo matutino de alguém, talvez colocando para fora a raspa do tacho da ressaca do dia anterior:

-CRÉÉÉÉUUUU...

Sorri.

Créu é a palavra destes tempos. Tá todo mundo créu, a dancinha do créu é o nosso ritmo por excelência, é o gesto "sífu" catarticamente manifesto. É a síntese!

(Para ilustrar este assunto de futebol, coloco uns desenhos do livro infanto-juvenil Figurinha Carimbada, que está para sair pela Editora Girafinha (Produção PB esmerada, em formato parecido com aquele livrinho de poemas do Tim Burton). Vai virar peça de teatro infantil com atores contracenando com bonecos e etc e tal. Obra do hipercriativo Márcio Araújo

24.2.08

Loconomia

Essa foi para a Folha de São Paulo do dia 25 de Fevereiro.


Os muitos desafios do desenvolvimento já não cabem em uma única linha de ação.
Complexas e simultâneas interelações definem o mundo globalizado hoje. As coisas não andam mais em fila, mas sim em ramificações cada vez mais complexas.

As cores mostram que o projeto anterior no qual estava trabalhando deixou sua paleta de cores infiltrada em meu sistema criativo.

18.2.08

Zetes e Calais



Zetes e Calais, membros da tripulação do Argos, combatem as Harpyas.
Do livro "O Herói e a Feiticeira", a ser lançado pela editora Nova Fronteira.

12.2.08

Shibui


Aproveitei meu período de Momo para colocar alguns trabalhos, fome cinéfila e leituras em dia. O ano no Brasil começa depois do Carnaval, todos sabemos.

No domingo após a quarta-feira de cinzas levei-me para passear e arejar as idéias sob a sombra dos bambuzais do Jardim Botânico do Rio. Ali pude finalmente concluir a leitura de Kind of Blue, presente dado por dois alunos-amigos de muito bom gosto.

Era uma tarde quente e preguiçosa. Daquelas que se transformam em tempestade quando o sol começa a se esconder atrás das montanhas da Gávea. Há duzentos anos este parque é testemunha destes eventos.

Entretido com a leitura, vez por outra distraía-me com as texturas que a luz filtrada pelas hastes de bambu imprimiam sobre as palavras. Três saguis se acercaram e lá ficaram a me fitar à distância de um braço (ganharam pão de queijo pela gentileza da visita). Zumbidos e cantos de pássaros faziam companhia às histórias do livro e juntos formavam uma trilha sonora única na minha cabeça. Anestesiado, deixei-me até servir de pasto para os mosquitos.

Aquela tarde não teria sido nada demais, não fosse eu uma pessoa que raramente se entrega a estas indulgências. Poucas vezes dei tanto valor ao ócio criativo.

Cheguei ao final de Kind of Blue e encontrei um belo parágrafo que reproduzo aqui:

"Quando a beleza atinge grande sutileza os japoneses chamam o efeito de "shibui", ou elegância contida. O termo "shibui" não encontra um equivalente fácil na língua portuguesa, mas uma rápida pesquisa revela que ele significa mais do que mera sutileza ou elegância. É mais um efeito do que um atributo e refere-se não a uma tela ou a uma canção, mas ao ato da apreciação em si.
Quando o talento artístico da mais elevada ordem cria uma obra que atinge um equilíbrio ilimitado entre opostos, unindo perfeitamente o yin da emoção e o yang da racionalidade, evoca-se o shibui, reconhecível pela forte reação emocional que suscita. Há melancolia em sua sugestão de impermanência, serenidade em sua profunda reserva e simplicidade."

Desenho Dinâmico começa em 23 de Fevereiro


O curso "Desenho Dinâmico" começou no dia 23 de Fevereiro com 100% de ocupação.

Como expressão visual, o desenho permanece como uma das nossas mais vibrantes manifestações artísticas, talvez a que está mais sinceramente imbuída do espírito de quem cria.

No Desenho Dinâmico trabalhamos com o modelo-vivo basicamente na forma de siluetas. A modelo – uma artista circence – veste malha preta e os alunos usam pincel e nankim sobre papel. Não há meio termo ou hesitação. Ou desenha ou não desenha.

Trabalhamos também com tinta PVA branca sobre papel preto. Desta vez, os participantes devem fazer a modelo surgir no papel através da pintura das "contra-formas" ou do chamado "espaço negativo".

No Desenho Dinâmico não há espaço para hesitação, mas sim intuição e ousadia.

As poses são rápidas e a produção intensa: um mínimo de 30 desenhos em 2 horas, dos quais os melhores serão usados para trabalhos de livre criação, e todos os outros para estudos e experimentações.

Este é talvez um dos meus cursos favoritos.