20.1.08

Se você é um artista, veja este filme. Se você não é veja também


Acabo de assistir ao documentário "Arquitetura da Destruição", do diretor sueco Peter Cohen.

Consagrado internacionalmente como um dos melhores estudos já feitos sobre o nazismo, este filme aborda de maneira única a relação que esta ideologia estabeleceu com os ideais estéticos da antiguidade (Roma, Grécia e Esparta), distorcendo-os para servir de alicerce a um plano doentio de embelezar o mundo.

A figura de Hitler é esmiuçada de maneira a mostrar-nos muito além do velho clichê do "artista frustrado e rancoroso". Detalhista e controlador, o furher cuidava pessoalmente de cada detalhe que compunha o Terceiro Reich, como se fosse o diretor de uma grande ópera wagneriana. Ele criou não somente a máquina de propaganda (deixando a Goebbels a tarefa de fazê-la funcionar), mas também desenhou uniformes, bandeiras e estandartes, esboçou monumentos e palácios, atuou como curador de várias exposições de arte alemã, e coordenou cada detalhe dos monumentais desfiles nazistas que levavam multidões à histeria.

O filme mostra também a origem da perseguição às obras expressionistas, com campanhas onde fotografias de pessoas com deformações físicas eram comparadas àquelas figuras representadas nas obras da chamada "arte degenerada". "Somente espíritos doentes poderiam criá-las", diziam aquelas campanhas. (Dentre os "degenerados" estavam Kokoschka, Kirchner e Max Beckman, artistas excepcionais)

(Curiosamente, notamos que nenhum dos artistas que produziram a chamada "arte ariana" deixou seu nome na história!)

Vemos também no documentário raras filmagens de época, que mostram o confisco de obras de arte dos museus da europa e o destino destas quando, já perto do fim da guerra, o imenso acervo é escondido em uma mina abandonada nos Alpes (e houve também um plano de explosão desta mina...). Eram mesmo uns diabos loucos aqueles nazistas!

Diferente de outros filmes sobre o tema, "Arquitetura da Destruição" aborda a estreita relação que esta ideologia estabeleceu com a arte e os artistas.

Rabiscos no museu

2 desenhos rápidos a grafite


18.1.08

Estúdio dos Sonhos


Peter Kuper, ilustrador extraordinário, desenhou aqui o seu "dream studio". Para um novaiorquinho a proposta tá de bom tamanho, bem urbanófila e tal.

Já que ainda não nos cobram impostos para sonhar, eu preferiria um estúdio com pé direito alto, clarabóia, uma bela biblioteca no mezanino, piso de cerâmica Brennand, e um quintal (sim, é uma casa) com grandes pedras, folhas e flores. Talvez uma mangueira com um balanço para arejar as idéias. Tudo bem a cara de um virginiano pé-no-chão.
Qualquer dia desenho isso para focar melhor esta visão.

Foi um sonho e eu tinha tudo isso...

Uma escultura de Giacometti.
Outra de Krajcberg.
Um quadro de Francis Bacon.
Outro de Rauschenberg.
Uma gravura de Hokusai.
O mural "Medicina" de Klimt, salvo intacto das chamas nazistas.
A bengala e o chapéu de Carlitos.
Uma gravura em metal e uma xilo de Kathe Kollwitz.
Um bico de pena de George Grosz.
Uma aquarela de John Singer Sargent. Perto dela uma outra feita pelo meu amigo Gonzalo Cárcamo.
Uma tela de Tápies. Outra, figurativa, de Richard Diebenkorn, mostrando ruas asfaltadas em uma cidade.
A primeira edição de um livro vitoriano ilustrado por Edmund Dulac.
Um original do ilustrador Yoshitaka Amano. Um nankim do Dave McKean e uma aquarela da série Arzach, do francês Moebius.
Uma máscara africana de mais de 300 anos.
Uma página de um dos códex do Leo Da Vinci com o desenho de uma máquina ancestral do helicóptero.
Duas esculturas, uma delas de Ernst Barlach a outra de Xico Stockinger.
Um sketchbook de Peter Beard (daqueles bem grandões e grossos). Perto dele um caderno de Picasso, com todas as páginas de estudos para a pintura "O Rapto das Sabinas".
Uma pequena escultura da deusa da fertilidade em pedra basalto de aproximadamente 10 mil anos.
Um armário chinês de mais de 200 anos.
Uma célula de animação de "Pink Floyd the Wall", feita por Gerald Scarfe.
Outra do filme "Fantasia".
Uma pintura da série Light Runners, do meu professor e mestre Marshall Arisman. Ao lado dela uma pintura do goiano Siron Franco. Há também, na mesma parede, um grande óleo de Kent Williams.
Do outro lado, temos uma gravura em metal de Goya, da sua série Caprichos. Há ainda uma de Rembrandt (um belo auto-retrato) e uma litografia de uma cena urbana, feita por Honoré Daumier.
Um desenho criado pelo cineasta Akira Kurosawa para o seu filme "Sonhos". E bem protegida da luz, uma página ilustrada vinda de algum livro persa do século XIV.
Em uma parede, sozinha e em destaque, a pintura Joan of Arc, que Jules Bastien-Lepage pintou em 1879.
Uma giclee print de uma ilustração do Lula Palomanes. Perto dela um original em preto e branco do Mike Mignola para os quadrinhos do Hellboy ("Seed of Destruction").
Um bico de pena do Lajos Slazay, da série Genesis.
Móveis originais de Mies Van Der Rohe.
Uma caricatura original de James Brown feita por Al Hirshfeld. Ao lado dela uma ilustração feita por Ronald Searle durante o tempo em que foi prisioneiro na Indochina.
Uma peça bordada por Arthur Bispo do Rosário, o manto que ele preparou para quando se apresentasse diante de Deus.
Uma fotografia de Miguel Rio BrancoE outras de fotógrafos como Sebastião Salgado,  James Nachtwey, Ansel Adams, Robert Capa,  Cartier Bressone também Sally Mann. Escondida sob um pano preto está uma foto feita por Joel-Peter Witkin. O pano preto é para que meus filhos não a vejam e tenham pesadelos.
Uma grande cabeça de soldado holandês em cerâmica e um desenho em pastel de um nu, ambos feitos por Francisco Brennand.
Um sketchbook de Toulouse Lautrec. Gostou desse?


E mais umas outros objetos e coisas como:
Um capacete de bombeiros americanos do século 19
Um par de baquetas de Stewart Copeland
Um cachimbo de Norman Rockwell, aquele que foi salvo da lixeira onde haviam panos sujos de turpentina, um pouco antes de incendiar todo o seu estúdio.
3 capacetes de guerra originais, um viking, um de samurai e outro medieval alemão.
Um fóssil de um filhote de Tiranossauro Rex.
Um contrabaixo acústico que pertenceu a Charles Mingus.
O violão-harpa (ou harp-guitar) que Michael Hedges usou na gravação da música "Because It's There".
A guitarra Fender que David Gilmour usou na gravação de Time, música do álbum "Dark Side of The Moon". A Gibson SG Double Neck de jimmy Page.
Diversos bonecos: um marionete de 2 metros de altura vindo da Tchecoslováquia (e que foi usado o filme Faust de Jan Svankmajer), um boneco usado na filmagem de "O Estranho Mundo de Jack"(Nightmare Before Christmas, de Tim Burton) e outro em "Fuga das Galinhas"(dos estúdios Aardman).
Em uma moldura de passe partout negro está uma página de partitura com anotações de punho feitas por Miles Davis, e usada por John Coltrane na gravação do disco Kind of Blue.
Um lenço de papel com um beijo em batom e uma dedicatória de Audrey Tatou
A claquete e a roupa da morte usadas na filmagem de "O Sétimo Selo" (de Bergman). 
Uma miniatura de um galeão espanhol feita no século XIX.
O diário de bordo de Ernst Shackleton durante a expedição ao ártico a bordo do "Endurance" em 1914.


Não se preocupem com o espaço para caber tudo isso. A casa é ampla, o pé direito alto, com fortes vigas negras. O projeto é de José Zanine Caldas, com alguns pitacos meus, claro.


E se você pensou em segurança, saiba que é nula a possibilidade de qualquer coisa ser roubada do meu sonho.


E você, o que tem na sua casa?

17.1.08

Jazz

Descobri o Jazz tardiamente porém em uma boa ocasião. Na época morava nos EUA e pude acompanhar diariamente na TV pública PBS o lançamento da série "Jazz" do jornalista Ken Burns. Precisei conhecer um pouco da história daquela música antes de me apaixonar completamente.



Perto de casa havia uma biblioteca onde eu pegava vários CDs gratuitamente e assim fui lapidando o gosto. Ainda longe de ser um expert, continuo descobrindo mais e mais no vasto oceano da internet. Clicando na palavra Jazz do título você (neófito ou expert) vai ter uma maravilhosa dose desta música via internet radio ( a KJazz é uma rádio pública dos EUA, de fato a melhor que encontrei até hoje).



Sou fã incondicional do estilo BeBop ( e John Coltrane é o sumo sacerdote desta devoção!), uma vertente do jazz criada há 50 anos e que até hoje soa moderno. Cada músico desta época tinha sua maneira própria de fazer o Bebop, portanto não espere que os sons se pareçam. Começe por um "Kind of Blue", do Miles, depois ouça o "My Favorite Things" do John Coltrane e eu garanto que esse caminho não terá volta.





Pouca coisa se salvou da minha antiga coleção de CDs, fruto do terrível e quase natural mal gosto de quem tem menos de 20 anos. As bandas de progressivo com aquele mis-en-scene todo, as de metal com seus guitarristas cheio de laquê...ugh, como pude aguentar tanto tempo? Meu sobrinho herdou aquela porcariada toda! Metal pra mim hoje é brass: sax, trumpete, clarinete, trombone e afins.
Estes desenhos antigos foram feitos enquanto eu ouvia essa trilha sonora, onde técnica e espontaneidade andam de mãos dadas.

16.1.08

O primeiro



Comecei minha vida profissional com este trabalho.
O convite veio do editor Pascoal Soto, que havia visto uma série de ilustrações minhas publicadas num ensaio na revista Domingo (do falecido Jornal do Brasil). O ano era 1995, e a biografia do Betinho estava para ser lançada em uma versão para o público jovem.

(veja esta série lá no meu site em "Projetos pessoais")

Graças a este livro, tive a feliz oportunidade de conhecer Herbert de Souza pessoalmente,  um cara cujo trabalho faz muita falta ao Brasil de hoje.

Em 2015 Betinho completaria 80 anos de idade.
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Ao clicar no título você pode rever o Betinho na plenitude da sua luta contra a fome e a miséria.

"Nós devemos fazer da vida e do tempo o que de melhor nós pudermos, todos os dias"

1.1.08

O último de 2007

Esta foi publicada na página de opinião do jornal Folha de São Paulo no último dia de 2007.
E que venha o novo ano (com leveza, por favor!)



"... a grande maioria dos historiadores se recusa, ou pelo menos hesita, em penetrar no futuro -- um terreno gelatinoso que não lhes é próprio. Aí, parecem acompanhar a sabedoria popular: "o futuro a Deus pertence". Mas como o poeta Drummond, num belo verso, lembrou que "o último dia do ano não é o último dia do tempo", quem sabe valha a pena imaginar o que nos reserva o futuro, pensado em sentido coletivo.
Esse exercício pode ser feito de várias maneiras, seja pela lente das projeções tidas como científicas, seja pelas lentes da imaginação. Há boas razões para se ler com reservas as projeções indicativas do que será o mundo daqui a 50 anos, para não se falar o que será o mundo daqui a séculos. Dito de outro modo, aqui prevalecem esmagadoramente as lentes da imaginação, mas uma imaginação diversa da que se lança ao passado, pois tudo no futuro é nebuloso."
Boris Fausto em artigo no jornal Folha de São Paulo.