25.4.07

Diários Gráficos: uma prática cotidiana


Mais do que um caderno de viagens ou local de registros visuais sobre o cotidiano, o diário gráfico é um suporte que propõe uma  ilimitada liberdade de expressão, experimentação e descobertas.

Embora eu goste bastante de desenhar - e o faça constantemente - tenho usado os meus cadernos para fazer outro tipo de trabalho. No momento interessam-me  aquelas experimentações visuais onde combino fotografias com colagens, faço “transferências” com solvente, deixo umas coisas escritas e também brinco com os velhos conhecidos lápis, pincel, aquarela, caneta, tinta.

Essa pesquisa pessoal começou para mim com os cadernos do Dan Eldon, e depois fui levado por correntezas naturais a conhecer o trabalho do fotógrafo Peter Beard (clique aí no título para conferir)) . Valeu muito a pena ter topado com o trabalho dos dois no meu caminho.

Percebo hoje um ressurgimento da tradição dos diários gráficos, com muitos jovens artistas de caderno à mão, todos registrando suas impressões do mundo mas cada qual à sua maneira peculiar. Nas páginas destes cadernos fica o registro do que a memória pode esmaecer. Estão lá os fragmentos do cotidiano, notas, recortes de jornais e revistas, combinações de fotos com texto, tickets de cinema e metrô, selos antigos. Memória, tempo, caldeirão de ideias.

Digo sempre que para o artista visual (ou qualquer indivíduo criativo), é uma boa idéia desenvolver o quanto antes o hábito de manter um sketchbook so alcance da mão e a todo momento. Lembre-se que tempo é um dos pilares desta prática. Tempo para ficar diante do caderno.

E aqui fica uma dica para aqueles que se guardam e se tolhem, para os que hesitam e os que pensam muito antes de tocar o papel, os que aguardam poder apenas registrar a exatidão de suas obras primas pessoais, as manifestações imaculadamente corretas.

Nas páginas do Diário Gráfico o papel vai guardar com a mesma generosidade o traço nascido da intuição e também o da observação. A mancha e o gesto, o acaso e os “acidentes felizes”. No caderno, páginas distantes podem se conectar  peças distintas, todas pertencentes à uma mesma ideia.
Não há ali lugar para o bonito nem o feio, nem para o certo ou o errado.

O entusiasmo com esta pesquisa visual nos cadernos levou-me a elaborar um curso onde proponho uma vivência intensiva no universo dos cadernos de ideias.

Ao longo dos ultimos 10 anos tenho viajado com o Diário Gráfico pelo Brasil, indo a cidades de norte a sul do país. O curso têm sido para mim muito mais do que uma ferramenta de trabalho mas uma sólida ponte para propiciar o encontro e a troca de ideias entre pessoas criativas.

24.4.07

Black: back to basics



Acabo de receber a mais recente Revista Colectiva, um projeto editorial colaborativo editado na Costa Rica pelo designer Venezuelano, Juan Manuel Betancourt, o Juancho. Nesta nona edição, o tema é Black: back to basics, uma sugestão do ilustrador brazuca e japonófilo Kako ("el hombre de los vectores con corazón") para ajudar a revista a contornar o problema dos altos custos de impressão em policromia
O conceito que amarra as peças publicadas neste número segue a idéia de voltarmos aos primórdios: o pretinho básico, primal, do yin e yang, do sim e do não, enfim, aquele tiçãozão sem os cinzinhas frescos dos indecisos.
É enfim o preto das origens da profissão dos artistas gráficos.
Este número conta com a presença de vários brazucas ilustres e também esta arte do "peixinho prateado que morde os dedinhos", uma monotipia descompromissada que veio do meu sketchbook. A outra imagem, uma página dupla do caderno preto ficou no arquivo e compartilho aqui e agora.
A Colectiva traz também um artigo que escrevi sobre a profissão do ilustrador, de onde viemos, para onde vamos.
Está lá que, quando Gutemberg inventou a prensa, os artistas tiveram que se adaptar àquela tosca tecnologia de produção dos múltiplos impressos. A história é longa, e sofremos por mais de 400 anos até a invenção dos processos fotomecânicos. Para ler o artigo na íntegra visite a seção de textos do meu site em www.renatoalarcao.com.br
O Juancho, editor que veio da terra de Hugo Chavez, sempre lança sua bela revista com uma exposição não menos bacanuda. Vejam o Flick da Colectiva clicando no título deste post ou então procure pelos videozinhos no You Tube colocando "revista colectiva" no box de "search"

18.4.07

Cubos de papel e couro com folhas


Disse o escritor Jorge Luis Borges:
"Pegar num livro e abri-lo mantém a possibilidade do acontecimento estético. O que são as palavras encostadas umas às outras num livro? O que são esses símbolos mortos? Absolutamente nada. O que é um livro, se o não abrimos? É simplesmente um cubo de papel e de couro, com folhas; mas se o lemos acontece uma coisa extraordinária; creio que não é a mesma de cada vez que o fazemos".

O link te levará ao CBA, o The Center for Book Arts em Nova York, escola onde minha paixão por livros ganhou asas.

12.4.07

Big Damn Prints - Coisas que só rolam em Nova York


Eu acredito que uma universidade se faz com muitas coisas - verbas inclusive - , mas principalmente com professores com espírito de iniciativa e alunos constantemente motivados e desafiados.
Sou assinante de uma newsletter digital chamada Dart, e a que me chegou hoje traz uma idéia fabulosa de um professor de gravura do Pratt (uma escola de artes visuais de Nova York): o evento Big Damn Prints.
Com o intuito de promover e expandir os limites da gravura como técnica, e também envolver os alunos em um processo criativo colaborativo, este evento realiza a céu aberto a impressão de enormes xilos nas próprias ruas do campus do Pratt. Estas gravuras são na verdade muito maiores do que qualquer prensa jamais poderia conter, e por isso a impressão é feita com a ajuda de um rolo compressor. Sim, um rolo compressor daqueles que aplainam asfalto na rua!
As xilos ficam então em exposição no próprio local onde foram impressas, seja para estimular novos adeptos da técnica ou simplesmente para estar ali e causar uma grande...hum...impressão!
O Big Damn Prints envolve mais de 40 professores, além de artistas convidados, que orientam os alunos e os neófitos nesta grande celebração criativa, todos envolvidos na produção das imensas obras .
Quem já frequentou um ateliê de gravura sabe bem que este é um dos melhores ambientes criativos para se trabalhar, um local onde a generosidade e a amizade são tão parte do cenário quanto as próprias tintas e prensas.
Tive a felicidade de frequentar dois ateliês, e posso dizer que neles encontrei grandes amigos e pessoas-chave na minha formação. O primeiro foi na EBA-UFRJ, onde aprendi com o "samurai da lito", Kazuo Iha, e com amigos como Ronaldo Rocha, Diucênio Rangel e Gian Shimada. Bem depois, já em Nova York, trabalhei no Robert Blackburn Printmaking Workshop, onde tive o amigo Bruce Waldman como meu mestre na arte da Monotipia.
No ambiente dos ateliês de gravura somos apresentados a muitos artistas, inclusive aqueles que já foram para o andar de cima e hoje só estão nos livros. Um exemplo é a alemã Kathe Kollwitz, maravilhosa gravadora, muito ativa no período entre as duas grandes guerras mundiais. Kathe defendia sua opção pela gravura como meio de expressão, por ser esta "a mais democrática das artes". Eu concordo e acrescento que a ilustração autoral (destaque para o "autoral", por favor) também se encaixa neste conceito.

Este ano, o artista convidado do Big Damn Prints do Pratt Institute é Martin Mazzora do atelier de gravura Cannonball Press. Quem quiser ver mais imagens do atelier Cannonball, é só clicar no título do post. Vai, agora corre para se inscrever num ateliê de gravura mais próximo da sua casa!.

10.4.07

Onde encontrar os melhores ilustradores do Brasil


O trabalho do ilustrador hoje está não somente em jornais, revistas e livros, mas também em cartazes e story-boards, embalagens, videogames, cenários de cinema, animação e TV, rótulos de produtos, publicidade, internet etc.
Basta olhar ao redor para perceber o quanto estes artistas vêm ganhando mais e mais espaço. Sua arte é criada não para museus, galerias ou paredes de casas, mas sim para a reprodução e a comunicação de massa.
A criação da SIB, Sociedade dos Ilustradores do Brasil, veio para resgatar os valores e a história desta profissão no país, além de propiciar uma aproximação entre artistas e profissionais que usam a imagem ilustrada em seus projetos.
Através de encontros regulares, exposições e eventos como o Ilustra Brasil!, a entidade tem proporcionado o intercâmbio de idéias entre ilustradores e mostrado ao público em geral um pouco do universo destes artistas que, trancados em seu estúdios, inventam o mundo onde antes havia apenas o papel, a tela, o mapa de bits em branco.
Passados 5 anos desde a sua criação, a Sociedade dos Ilustradores do Brasil já conta com mais de 250 profissionais, dentre eles os veteranos Rui de Oliveira (criador da primeira abertura da série Sítio do Pica Pau Amarelo), Benício (ilustrador de todos os cartazes de filmes dos Trapalhões), Guto Lacaz, e também os meus favoritos Cárcamo, Patrícia Lima, Daniel Bueno, Kako, Hiro Kawahara, Samuel Casal, ihh são tantos...
No portal da SIB os interessados vão encontrar amplas informações sobre a sociedade e seus artistas, bem como importantes ferramentas de trabalho como contratos, orçamentos e leis de direitos. Em especial, vale checar a Galeria virtual, o blog e também fazer o download do Info SIB, o jornal eletrônico que eu edito junto com o colega ilustrador Orlando Pedroso.
Surgida diante da necessidade de unir os ilustradores face a tantos desafios na arena profissional, a SIB vem traçando um sólido plano de trabalho, para crescer e ficar à altura da tarefa de representar estes artistas tão importantes para a cultura gráfica do país. Com um trabalho sério pela normatização da atividade da ilustração no Brasil, a entidade vem estabelecendo como referência uma postura profissional e ética por parte de seus associados, com a finalidade de defender a arte, o mercado, e a formação das futuras gerações de ilustradores.