17.2.07

Dica de livro


A minha fila de livros andou. Nem sei como tenho conseguido achar tempo para ler em meio a tantas ocupações. Mas li uns bons livros recentemente - e de forma tão prazeirosa - que até deu vontade de voltar aqui no blog pra compartilhar isso com vocês.
O primeiro deles é "O Porto e a Cidade, o Rio de Janeiro entre 1565 e 1910" da editora Casa da Palavra (um belo volume com design de Victor Burton).
Comprei-o em uma pequena mas muito boa livraria de Brasília, quando levei para aquela cidade o workshop Diário Gráfico (durante a exposição Ilustrando em Revista, da Editora Abril ). Fotos aqui em breve.
Lembro de ter dito ao vendedor no balcão da loja que sempre deixo pra comprar meus livros em pequenas livrarias, para que elas consigam nadar na mesma piscina onde se refastelam as "mega-bookstores corporativas". Viva as pequenas! (inclusive as editoras!)

"O Porto e a Cidade" é um livro imperdível para aqueles que, como eu, são apaixonados pela visão da Baía de Guanabara, sua ligação com a história urbana do Rio de Janeiro, que se confunde com a própria história do porto.
Desde o século 16, circularam nas águas da antiga baía do Rio de Janeiro embarcações de corsários franceses, navios negreiros, baleeiros, naus inglesas, holandesas, chinesas, portuguesas, e pequenas embarcações de pesca e transporte de açúcar dos engenhos da Baixada (região onde morei até os meus 27 anos). Na área onde moro hoje, Niterói, haviam muitas aldeias de índios, e os próprios nomes dos bairros da cidade contam um pouco dessa história: Icaraí, Piratininga, Itaipu, Pendotiba....
Guarnecida por diversos fortes em ambos os lados, a baía tem uma formação geográfica perfeita para o porto que veio a se tornar o maior protagonista do surgimento da cidade do Rio de Janeiro.

A minha fixação com estas imagens mentais faz com que todas as vezes em que eu atravesse o vão central da ponte Rio-Niterói um pensamento me visite a cabeça:
"No tempo das caravelas somente um pássaro poderia ver a baía deste ângulo. Que privilégio..."

Mas sempre sinto também uma ponta de tristeza ao ver que o que somos capazes de destruir em menos de 500 anos. A baía de Guanabara é extraordinária e merecia um projeto sério de despoluição.

"O Porto e a Cidade" traz também um impressionante capítulo sobre o comércio de escravos na cidade. Aprendi que a região onde ficavam os depósitos de negros, antes chamada de Valongo, é bem pertinho de onde ficam hoje os bairros da Gamboa e do Santo Cristo, e também a Cidade do Samba (onde estão os barracões de escolas de samba e toda infra-estrutura dos desfiles). Não deve ter sido coincidência a escolha do local pois foi justamente ali que os cantos e lamentos dos negros saudosos vieram a dar origem ao samba. Aliás, bom carnaval para todos, seja qual for o seu estilo.

A ilustração acima foi feita por um artista chinês, por volta dos anos 1830. Veja ao fundo as duas torres triangulares do Mosteiro de São Bento (onde me casei!), e à sua direita a ilha de Villegaignon, ocupada pelos franceses em 1555 (ficaram lá 12 anos), local onde hoje ficam as instalações do Colégio Naval, na praça Mauá.

Para fechar este longo post, separei um trechinho sobre um evento ocorrido nas águas da Baía do Rio de Janeiro, hoje de Guanabara, em pleno século 19:

"No ano de 1833, o veleiro H.M.S. Snake da marinha britânica, em missão de busca por navios negreiros, interceptou o veleiro português Maria da Glória na entrada do porto do Rio. Sua carga consistia de 400 escravos, quase todos com menos de 12 anos."